A síndrome do ovário policístico é uma doença endócrina que infelizmente não possui cura. Decorrente de algumas alterações hormonais, alguns sintomas são bem característicos, tais como acne, queda de cabelo, oleosidade na pele e no couro cabeludo, ciclo irregular, pelos em excesso, vontade de doces, cansaço excessivo, entre outros.
Esses sintomas precisam de tratamento, para que não ocorram consequências na saúde da mulher.
O tratamento
O tratamento basicamente envolve a mudança do estilo de vida e da alimentação. Com uma alimentação saudável e a prática de atividades físicas, a mulher pode se beneficiar fortemente.
Diversos estudos publicados explanam a combinação da mudança de estilo de vida com o uso de alguns suplementos e fitoterápicos que podem ser adicionais à conduta, para que essa seja mais eficaz.
Vamos falar de cada um deles?
Melatonina
A melatonina é o hormônio do sono que ajuda na regulação do ciclo circadiano (dormir e acordar). Sua produção é estimulada pela escuridão e inibida pela luz e possui papel benéfico e recuperador na qualidade do sono.
É encontrada em quantidades pequenas nas carnes, frutas, grãos, legumes e vinho tinto.
Uma das suas funções é retardar o aparecimento de doenças relacionadas ao envelhecimento, tais como processos inflamatórios e aumento dos radicais livres. Sua capacidade antioxidante, ou seja, de eliminar toxinas, é muito útil na prevenção de algumas patologias como câncer, diabetes, inflamações virais e doenças imunológicas. Seu uso também promove a imunidade, gera efeito antidepressivo e controla a pressão arterial.
Na fertilidade e nos processos reprodutivos, como por exemplo na formação de folículos ovulatórios, na própria ovulação e na maturação dos óvulos, há o envolvimento de radicais livres. E a melatonina é fundamental nesses processos pela sua ação antioxidante. Estudos têm demonstrado que para a qualidade dos óvulos e dos embriões não há apenas a necessidade de uma boa formação genética e cromossômica, mas também há participação fundamental do ambiente em que os óvulos se desenvolvem, onde a melatonina participaria ativamente.
Além de sua função antioxidante, ela também ajuda na regulação da função ovariana e influencia na produção de importantes hormônios, como a progesterona e o estradiol.
Estudos também citam que a deficiência de melatonina está relacionada à endometriose e à Falência Ovariana Prematura (FOP) e que em pacientes com SOP (Síndrome do ovário policístico) há diminuição de melatonina no fluido folicular.
A melatonina é usada como tratamento em pacientes com infertilidade, pois melhora a qualidade dos níveis de fertilidade, melhora a saúde dos óvulos e pode favorecer a concepção.
Coenzima Q10
A coenzima Q10 é uma substância natural do nosso organismo, estando presente na maior parte das células humanas. Está relacionada à capacidade de produzir ATP, forma como o nosso corpo armazena energia.
A Q10 está concentrada nas mitocôndrias, unidades produtoras de energia, localizadas no interior das nossas células.
Em mulheres com mais idade, os óvulos encontram-se com menor quantidade de mitocôndrias e por isso menos funcionais, prejudicando a produção de ATP e podendo ocasionar um provável envelhecimento dos óvulos.
A concentração de ATP que está nas células possui relação com o potencial de implantação dos embriões.
Muito mais do que a vitamina E, a coenzima Q10 possui efeito antioxidante e acredita-se que a sua suplementação além de melhorar a fertilidade pode trazer outros benefícios para a saúde, como melhora dos níveis de energia e disposição, melhora da memória e da cognição de forma geral.
Vitamina D
Estudos recentes demonstram que a vitamina D tem funções regulatórias vitais, isto é, regula a expressão de mais de 1000 genes, participando decisivamente do funcionamento de vários órgãos e sistemas. Por isso, alguns cientistas e estudiosos sugerem que a vitamina D seja considerada um “hormônio”.
Atualmente sabe-se que a deficiência de vitamina D está envolvida em patologias como asma, diabetes mellitus tipo 1, hipomineralização óssea causando osteoporose ou raquitismo, doença cardiovascular, dermatite atópica, doença inflamatória intestinal, artrite reumatoide e até mesmo depressão.
Em mulheres com SOP, a carência de vitamina D parece piorar a resistência à insulina, modificando a produção e utilização de diversos outros exames e favorecendo ainda mais o surgimento de diabetes tipo 2.
Para lembrar, produzimos vitamina D quando o Sol bate na pele. Alguns alimentos também a contém, como peixes de água fria, tipo salmão, atum ou sardinha. No entanto, para suprirmos as necessidades diárias de vitamina D deveríamos ingerir uma quantidade de peixes nem sempre compatível com nosso hábito alimentar cotidiano, daí a importância de sempre monitorar os valores de vitamina D através de exames de sangue e suplementar sempre quando necessário.
Mio inositol
Este é um medicamento natural chamado de fitoterápico, que envolve ácido fólico e vitaminas do complexo B. Estudos feitos em mulheres com ovários policísticos e resistência insulínica mostraram uma melhora considerável do metabolismo já nos primeiros meses de tratamento com o fitoterápico.
O Mio Inositol age corrigindo a anovulação em mulheres com síndrome ou apenas episódios de ovários policísticos, corrigindo seus hormônios (FSH, estrógenos e LH) cujo desequilíbrio as fazem deixar de ovular e, consequentemente, deixar de menstruar.
O Mio inusitol também tem papel importante na melhora e no controle da resistência à insulina, melhorando a captação e a utilização de carboidratos pelas células do nosso organismo.
Em mulheres com SOP e Resistência à insulina, o Mio Inusitol parece atuar melhorando o quadro metabólico e evitando o surgimento de diabetes tipo 2.
Probióticos
Só de olhar para a barriga não dá para desconfiar, mas ali dentro moram no mínimo 10 trilhões de micro-organismos. Essa população tem o nome de microbiota, antigamente chamada de flora intestinal.
Assim como acontece em nossa sociedade, os bichinhos têm família, nome e sobrenome. E o mais importante de tudo: executam inúmeras funções dentro do nosso organismo.
Mas nem sempre essa microbiota está em paz e equilíbrio. Às vezes, há disbiose: nome que remete a um desequilíbrio dos micro-organismos que povoam nosso intestino.
Uma equação bem simples denota essa quebra de equilíbrio: os micróbios potencialmente nocivos, que também habitam o intestino, se multiplicam a ponto de se sobrepor no jogo de influências sobre os bichinhos benfeitores. Ou seja: as bactérias negativas, alimentadas por carboidratos e açúcares, se multiplicam de forma desordenada e ficam em maior quantidade do que as bactérias positivas.
Isso traz desconfortos intestinais, gases, dilatação do estômago, distensão abdominal e vontade de doces e carboidratos acima do normal.
Diversas pesquisas também relacionam a disbiose com a resistência à insulina. O intestino em desequilíbrio piora a permeabilidade das células ao efeito do hormônio, gerando aumento de insulina e consequentemente de outros hormônios, como a testosterona.
Uma das maneiras de evitar que isso aconteça ou reverter a situação é investir nos probióticos, bactérias reconhecidamente benéficas e que podem ser encontradas em queijos, iogurte, Kefir e leites fermentados.
Faz tempo que os cientistas sabem que a microbiota de um indivíduo acima do peso é diferente da de alguém com peso saudável. E um micro-organismo que marca presença em pessoas mais magras tem animado a turma da pesquisa, a Akkermansia muciniphila. Em pesquisas, a bactéria diminuiu de 40 a 50% o ganho de massa corporal entre cobaias. Seu efeito foi preservado mesmo quando ela foi aquecida a 70 °C, um grande diferencial entre os probióticos, pois os alimentos com essas bactérias do bem hoje são refrigerados para garantir a sobrevivência dos micro-organismos. Enquanto a Akkermansia não chega ao mercado, invista em frutas vermelhas, cebola, chocolate amargo e castanhas, que criam condições para o bichinho prosperar.
Picolinato de cromo
O cromo é um mineral natural encontrado em muitos suplementos e em alguns alimentos, como carne, ovos, alimentos processados, gorduras e óleos vegetais. Também está presente em outras comidas, desta vez mais saudáveis: cenouras, batatas, brócolis e grãos. O cromo, associado ao picolinato, é mais facilmente absorvido pelo corpo humano, e é por essa razão que é vendido nessa forma pelos mercados de suplementos.
Umas das principais funções do cromo é de efetivar o efeito da insulina. A falta desse mineral pode levar a sérios danos ao sistema dependente de insulina, que é responsável por elevar os níveis de glicose no sangue, como após as refeições, fornecendo energia. Outro papel importante da insulina é de atuar no metabolismo do carboidrato, da gordura e da proteína.
Na medicina alternativa, o picolinato de cromo é comumente utilizado para baixar o colesterol e otimizar a utilização de glicose pelo corpo. Vendido no mercado de suplementos, o picolinato de cromo é conhecido por ajudar na perda de peso, ao passo que auxilia na redução de gordura corporal e na construção de massa muscular.
Em mulheres com SOP, além de atuar melhorando a resistência à insulina e por isso evitando o diabetes tipo 2, o picolinato de cromo auxilia diretamente na vontade de comer doces e carboidratos, favorecendo o controle da dieta sem tantos sacrifícios.
A ingestão diária deve ser entre 25 e 35 mcg, e durante uma das principais refeições. Mas atenção: não exagere no consumo nem o utilize sem orientação nutricional.
Alguns estudos mostram que os efeitos colaterais do picolinato de cromo podem ser excessivamente severos, acarretando mudanças no DNA em razão à combinação dele com outras substâncias químicas, podendo levar ao câncer. Além disso, há relatos que esse suplemento irrita o sistema gastrointestinal, podendo desencadear úlceras e algumas dermatites.
Ômega 3
Estudos atuais mostram que a intervenção com ômega 3 desempenha um papel importante na regulação imunológica, na sensibilidade à insulina, na diferenciação celular e na ovulação em mulheres com SOP.
Este suplemento dietético pode ser usado para melhorar a desordem da foliculogênese excessiva (responsável por gerar microcistos ovarianos) causada pelo estresse oxidativo e a hiperinsulinemia (excesso de insulina) em mulheres com SOP.
A suplementação de ômega-3 também tem um efeito benéfico em alguns fatores de risco cardiometabólicos em mulheres com SOP, o que é conseguido através da redução da síntese de prostaglandinas por inibição competitiva da enzima chamada ciclooxigenase 2
Este estudo mostra evidências de que o ômega-3 pode ser um novo medicamento para pacientes com SOP, e que combateria o excesso de insulina (hiperinsulinemina), Resistência à insulina (RI), altos níveis de colesterol, especialmente LDL e triglicerídeos. Isso, é claro, aliado à alimentação saudável e prática de atividades físicas.
Resveratrol:
O controle dos níveis elevados de testosterona ainda é um desafio na SOP. No entanto, em um estudo recente os pesquisadores descobriram uma queda nos níveis de testosterona nas participantes que fizeram a suplementação do resveratrol, um antioxidante potente.
A substância já é conhecida pelos seus benefícios cardiovasculares e anti-inflamatórios e pode ser encontrado em baixas concentrações no vinho (2 a 5mg/ml dependendo do vinho tinto), nas uvas e nozes. Em estudo recente do “Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism”, a equipe evidenciou que a suplementação diária com 1.500mg de resveratrol, um polifenol natural, foi efetivo na redução dos níveis de testosterona total em mais de 23%. O mais impressionante do estudo foi demonstrar que a suplementação foi igual ou melhor do que os contraceptivos orais ou a metformina, para a melhoria do hiperandrogenismo.
A equipe observou que um estudo anterior de 12 meses de contraceptivos orais para o tratamento da SOP resultou em uma queda de 19% nos níveis de testosterona total. Da mesma forma, um tratamento de seis meses com metformina teve resultados insignificantes com uma diminuição de 8,2%. Mas os benefícios do resveratrol foram ainda maiores. O estudo mostrou uma redução do sulfato de dehidroepiandrosterona (S-DHEA), outro hormônio que o corpo pode se converter em testosterona e um aumento da sensibilidade à insulina de mais de 66%, combinado com um decréscimo de 31,8% nos níveis de insulina de jejum.
É o controle natural dos hormônios, cada vez mais próximo da sua realidade!
Magnésio
A insulina é um hormônio, responsável por colocar a glicose para dentro das células, e que precisa do magnésio para ser produzida e também para ajudar na metabolização do açúcar.
Mulheres com SOP costumam apresentar dificuldade na sua produção e utilização, situação denominada como Resistência à insulina.
O magnésio costuma ser excretado com a glicose extra do sangue, e por isso normalmente está deficiente em mulheres com SOP e / ou diabetes.
Estudos mostram que a suplementação de cloreto de magnésio em diabéticos melhora a ação da insulina e consequentemente traz uma melhora no controle do quadro. Esse seria o mecanismo pelo qual sua suplementação ajudaria no tratamento e controle da SOP. Com uma melhora do funcionamento da insulina, logo haveria diminuição na sua concentração sanguínea, que por consequência faria diminuir também os hormônios andrógenos, responsáveis pelos sintomas da Síndrome.
Esses são alguns dos suplementos que podem te ajudar no tratamento. Mas vale lembrar que antes de tomar qualquer um, a indicação e prescrição de um profissional é imprescindível.