Você sabe a diferença entre ter Ovário Policístico e ter a Síndrome do Ovário Policístico? É comum encontrarmos pessoas que acreditam se tratar do mesmo problema, mas são patologias completamente diferentes.
O único fato que as une é em relação à cura, que infelizmente não existe em nenhum dos casos.
Ainda que se tenha cistos no ovário, nem sempre isso quer dizer que se tem a Síndrome do Ovário Policístico. A diferenciação pode ser feita com base nas características clínicas, laboratoriais e de imagem.
Ovário Policístico (OP)
Definição
Antes de mais nada, vale à pena entender que existem alguns tipos de cistos ovarianos normais e fisiológicos, sendo os mais comuns o cisto folicular e o cisto de corpo lúteo. Ambos são denominados funcionais e fazem parte do processo normal do ciclo ovulatório. Geralmente, eles não provocam sintomas e desaparecem de forma espontânea. Ter esses cistos não quer dizer que a mulher tenha OP ou SOP.
Ovários policísticos (OP), como o próprio nome indica, são ovários que têm muitos cistos. Para que o caso seja considerado clinicamente como OP, é necessário que haja dez folículos de 10 mm em cada ovário, no mínimo. Estes cistos não desaparecem com o passar do ciclo menstrual e não são funcionais.
Dentre os sintomas do OP estão: inchaço e sensação de pressão no abdômen, dor pélvica e dificuldade para engravidar. Menos comuns, mas que também podem acontecer: aumento de peso, cansaço, dor aguda na região lombar ou nas coxas, sensibilidade nas mamas, dor ao evacuar, náuseas e até vômitos.
Muitas pessoas questionam se quem tem OP tem maior propensão para desenvolver SOP. A ligação entre as condições é inexistente. Na SOP é a produção desregulada de hormônios masculinos a responsável pela síndrome, não a pré-existência de cistos. Ou seja, uma mulher que tenha OP pode passar a vida toda sem desenvolver a SOP.
Tratamento
Quem tem OP não precisa, necessariamente, de um tratamento. A mulher pode viver com seus folículos normalmente, sem apresentar queixas ou outros problemas de saúde por conta deles. Se a mulher apresentar alguma dificuldade para engravidar ou sintoma desconfortável, aí sim vale a pena buscar ajuda e tratamento.
Síndrome do Ovário Policístico (SOP)
Definição
A SOP possui um quadro clínico maior e completamente diferente do quadro de quem tem OP.
A Síndrome atinge 1 em cada 10 mulheres em idade fértil. Isso representa até 20% das mulheres em todo o mundo, somando – se mais de 100 milhões de casos ao redor do planeta.
Quem tem SOP possui alterações hormonais, que precisam ser diagnosticadas e tratadas. Há aumento de hormônios masculinos e resistência insulínica na maior parte dos casos (o que origina os sintomas típicos da síndrome, como acne, queda de cabelo, oleosidade, ciclo menstrual irregular, pelos em excesso, cansaço e indisposição).
Diagnóstico
A SOP é diagnosticada por uma série de exames em conjunto, combinados com as avaliações clínicas (de sinais e sintomas). Na mulher com SOP muitas vezes também é possível ver cistos no ovário através do ultrassom, mas essa não é uma regra, e mesmo em mulheres com ausência de cistos, pode-se confirmar o diagnóstico de SOP através de outros sintomas, sinais e exames.
Os critérios para o diagnóstico da SOP ainda são motivo de discussão na literatura. De acordo com o consenso de Rotterdam, o diagnóstico de SOP inclui pelo menos dois dos seguintes critérios: amenorreia e/ou oligomenorreia (ciclos menstruais irregulares ou anovulatórios), sinais clínicos e/ou bioquímicos de hiperandrogenismo (principalmente hirsutismo, com aumento de pelos no rosto e no corpo) e/ou ovário policístico à ultrassonografia, excluindo-se outras causas com manifestações clínicas semelhantes.
Esse consenso ainda define o OP pela presença de 12 ou mais folículos medindo entre 2 e 9 milímetros de diâmetro e/ou aumento do volume ovariano (maior que 10 cm3) ao exame ultrassonográfico.
Vale mencionar que a avaliação e o diagnóstico da SOP não devem ser realizados quando a mulher utiliza contraceptivos hormonais, que podem levar a redução ou desaparecimento dos cistos, mascarando também outros sinais e sintomas. Nesse caso, a ausência ou o pequeno número de alterações podem induzir ao erro no diagnóstico da SOP.
Importante: enquanto a observação de um ou até mesmo de poucos cistos ovarianos não caracteriza por si só a SOP, a sua ausência também não afasta essa possibilidade
Exames
Para o correto diagnóstico da SOP são necessários exames de sangue para avaliação de insulina, glicemia, curva glicêmica, TSH, FSH, LH, testosterona total, testosterona livre, 17 OHP, SDHEA, SHGB, T3, T3 livre, T4, T4 livre, colesterol total e frações, vitamina D, hemoglobina glicada e homa-r.
É importante também realizar o exame de ultrassonografia por via transvaginal e avaliação clínica (análise dos sintomas)
Tratamento
O tratamento da SOP é tão complexo quando sua fisiopatologia.
Primeiramente, precisamos saber quais os efeitos da SOP no organismo da paciente. É comum mulheres com a Síndrome terem alterações no metabolismo de carboidratos, com resistência à insulina (RI) e até a consequência de uma RI não tratada, que é o diabetes tipo 2. As mulheres com essa condição costumam sentir uma necessidade por carboidratos bem maior, além de mais cansaço, fadiga e indisposição.
Observa-se também aumento de gordura no fígado, alterações de colesterol e triglicerídeos e disbiose (desequilíbrio da micro flora intestinal, com sintomas como gases, dilatação e distensão abdominal).
Não menos comuns, são as mulheres que sofrem também de crises de ansiedade, Síndrome do Pânico e depressão.
Todo esse conjunto de sinais e consequências também deve ser levado em consideração no tratamento, que consiste primeiramente na mudança de hábitos de vida.
Mudar a alimentação, praticar atividades físicas e controlar o estresse são partes fundamentais do tratamento da SOP. Uso de suplementos e fitoterápicos também auxiliam no tratamento das disfunções e suas alterações.
Medicamentos e anticoncepcionais não devem ser considerados como tratamento da SOP, uma vez que atuam pontualmente mascarando os sintomas mas não agem na causa do problema. Tratar os sintomas e não suas causas pode provocar uma ideia errada de cura, uma vez que os sintomas ficam amenos ou até desaparecem enquanto se faz uso dessas substâncias.
Quando se tem o controle da SOP às custas de métodos contraceptivos hormonais ou antidiabéticos, deve-se ter consciência de que ao interromper o uso das drogas os sintomas voltarão, possivelmente piores e mais sérios.
A dieta
A principal forma de tratamento da SOP é a dieta.
Um planejamento alimentar personalizado, com baixo consumo de carboidratos e maior consumo de proteínas e gorduras saudáveis estimula o melhor funcionamento do organismo, controlando e remediando a resistência à insulina, que parece estar na origem dos sintomas e da própria doença.
Importante: Não é qualquer low carb que resolve a questão, mas sim uma dieta funcional, rica em antioxidantes e nutrientes que auxiliam no bom funcionamento hormonal feminino.
Mais uma vez, é imprescindível orientação profissional! Procure ajuda, por você e pela sua saúde!